quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Os bras(Z)ucas

Venho evitando há muito tempo escrever este post porque dá margem à muita controvérsia e é polêmico demais, mas vá lá.

Muita gente acredita que os brasileiros são amados, que onde vamos todos nos adoram porque somos felizes, simpáticos e tudo de bom. Certo? Bem, não é por aí. Todos nós sabemos que existem Brasileiros e brasileiros. A questão é que quando você está fora do seu país, acaba representando o seu povo, para o bem e para o mal. E, aqui, e muitos outros lugares do mundo existem muitos brasileiros nos representando muito mal mesmo! Eu explico.

A maioria dos brasileiros que vem para cá, decide trazer o Brasil junto com eles. Como assim? Moram com brasileiros, saem com brasileiros, comem todo dia no Feijoadão (lugar que só tem brasileiro comendo comida brasileira), vão toda terça-feira na Diceys (balada de brasileiros), na sextaneja (nem preciso explica essa, né?) e domingo no forró. Ou seja, falam português 100% do tempo e vivem aqui como se estivessem no nosso amado país. A queixa mais comum dos estrangeiros é que nós não nos misturamos e não respeitamos quando tem um gringo na roda e só falamos em português.

Não tenho como negar nada disso. É a mais pura verdade! Muita gente vem pra cá, fica anos aqui e sai com um inglês capenga. Daí, começam a reclamar da quantidade de brasileiros que tem na Irlanda. Que é impossível não morar com um, que é impossível não ter amigos brasileiros... e aquele blá blá blá todo.
Fiquei seis meses por aqui e praticamente só tinha um amigo brasileiro com quem saia de vez em quando. Morava só com estrangeiras e essas coisas fizeram toda a diferença do mundo. Chegava muitas vezes a sentir falta de falar nossa língua e soltava algumas palavras em inglês quando skypeava (sim, é meu blog e eu invento palavras) com a família. Não evitei brasileiros, mas também não fiquei correndo atrás deles por todos os lugares. Tentando desesperadamente manter uma vida que eu tinha lá.

O único malandro que eu curto

É impossível não fazer amizade com brasileiros. Mesmo porque, aqui você acaba conhecendo pessoas incríveis e seria muito trouxa de não aproveitar. A questão é você manter o foco no que quer. Não veio aqui aprender inglês? Não veio praticar? Pra ficar falando só na aula você fica no Brasil, né?!

Depois de seis meses, mudei com a minha flatmate italiana para um apartamento com outros dois brasileiros e outro italiano (depois o último saiu e veio um rapaz da Venezuela). Sempre que tem algum gringo no ambiente, automaticamente mudamos para o inglês. Ninguém combinou isso, apenas acontece como sinal de respeito.

Certa vez, estávamos em casa numa reunião com amigos. Estava na cozinha conversando com uma amiga brasileira quando um chinês entrou para pegar um copo de água e perguntou porque estávamos conversando em inglês se ambas éramos brasileiras. Ele ficou espantadíssimo quando explicamos que foi porque ele entrou no ambiente. O chinês/irlandês mora aqui desde criança e disse que a maioria dos brasileiros não faz isso e nem sequer se importa com. Pra mim, essas atitudes do povo aqui acaba soando muito como falta de respeito pela cultura mesmo. Quantas vezes já não ouvi gente reclamando dos coreanos que moram no Brasil e não aprendem a falar português. Então por que aqui tem que ser diferente conosco?

A bem verdade é que muitos brasileiros acabam sim queimando nosso filme por aqui e feio! E não dá para dizer para as pessoas não generalizarem porque isso é o normal do ser humano. Já vi muito gringo falando que não gosta de brasileiro e que gostam de mim porque não sou uma brasileira típica. Então, peço encarecidamente: se a Irlanda não é a sua primeira escolha, se você está vindo porque seus pais querem, porque não tem dinheiro para ir para os EUA, Canadá ou Austrália... bem, faça um favor para o resto dos brasileiros e não venha. Estou falando sério: vá para o diabo que te carregue, mas não para aqui.

Digo o mesmo para o povo que vem pra cá sem ter dinheiro para se manter aqui, que pediu dinheiro emprestado para enganar a imigração na hora de tirar o visto e que acaba tendo que voltar antes até de acabar o curso. Esse pessoal, depois acaba falando mal da Irlanda por aí. E não tem do que reclamar, a Ilha Esmeralda recebe a gente de braços aberto. Duvida? Pois coloque na balança todas as coisas que o governo aqui te possibilita como estudante de intercâmbio e o que os outros países oferecem.

Então, vou acabar com algumas ilusões que as pessoas possam ter antes de vir:

- Não tem emprego caindo do céu. Não mesmo. Alguns países da Europa como Itália e Espanha estão em crise. Então, muitos desses jovens estão aqui também procurando emprego. Você está concorrendo diretamente com eles e, para o empregador, é muito melhor ficar com um europeu (que não tem problema com carga horária e que pode ficar aqui muito mais de um ano) do que com você;

- Se você não sabe falar o mínimo de inglês, dificilmente vai conseguir algum trabalho. Principalmente nos primeiros meses quando mal começou o seu curso de inglês. Então, venha preparado com muito mais dinheiro para se manter porque demora até meses para achar algo;

- Não se aprende ou fica fluente em inglês (ou qualquer outro idioma) em um ano. Isso é uma grande ilusão. Quantos anos você levou para apender português? Pois será mais ou menos o que levará para o inglês também. E fluente só sendo nativo mesmo;

- Se você não tem passaporte europeu ou trabalha na área de TI (e tenha QI aqui), as chances de você conseguir um emprego em qualquer outra coisa que não seja um subemprego são quase nulas. Então, se você não está preparado para lavar prato, segurar placa na rua (e passar frio e tomar chuva) ou recolher copo em pub... definitivamente Irlanda não é para você.

Se depois de tudo isso você quiser vir, venha que tenho certeza de que será uma experiência eriquecedora. E venha de braços abertos e muita garra para dar duro porque por aqui não tem mamata, não. Você viaja pra tudo quanto é lado, mas tem que batalhar para conseguir tudo isso. Irlanda não é para os fracos, não. Mas com certeza é para muitos brasucas sangue-bom que sabem que ser brasileiro não significa ser malandro e passar a perna em todo mundo. Pra esses, vale a pena abrir o coração porque são sim as amizades inesquecíveis que você irá levar e os que irão te apoiar quando precisar.

PS: Sim, tem muito brasileiro que vem pra cá para roubar e aprontar até com os próprios conterrâneos.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Voltar ou renovar?

Uma das coisas que me tem tirado o sono ultimamente é a grande questão que todos passam no final do intercâmbio. A tal da dúvida: voltar ou renovar por mais um ano? Confesso que mudo muito de opinião a cada semana.

Amo a Ilha Esmeralda, tudo o que vivi por aqui, todas as pessoas e lugares que conheci e a cultura. No entanto, não sei se aguentaria ficar mais um ano inteiro. A minha ideia inicial era renovar e ficar até o verão do ano que vem. Aí poderia fazer uma viagem no verão europeu, conhecer mais alguns países e seguir pra nossa terrinha verde-e-amarela.


A questão é que nem o trabalho no pub vingou e nem na loja. No pub, eles queriam alguém só para quando estivessem tendo festas. Contrataram muitos bartenders ao mesmo tempo e como as aulas já começaram faz tempo, o fluxo de alunos lá diminuiu e a necessidade de pessoas trabalhando também. Conclusão: acabam colocando os próprios bartenders para recolherem os copos e mesmo a Dani, que trabalha como tal, só tem sido chamada para lá uma ou duas vezes por semana. Assim como eu, ela começou a procurar outra coisa para poder pagar as contas.

Na loja, as coisas pareciam que iriam engrenar mas, assim como no pub, eles contrataram mais gente do que precisariam. E as minhas prometidas horas a mais nas próximas semanas foram por água abaixo com a chegada de uma outra vendedora que estava de férias. Não só não estou tendo horas a mais esta semana como a menos do que na semana passada. :-(

Tudo isso está me fazendo questionar se já não passou da hora de começar a pensar em voltar. Realizei aqui alguns dos sonhos que tive e que nunca achei que um dia se concretizariam. Fiz meu intercâmbio, melhorei o meu inglês (hoje em dia ninguém mais tira sarro de mim por conta disso, muito pelo contrário), conheci castelos (sim, essa era uma das coisas que eu mais tinha vontade de fazer e creio que comentava apenas com minha mãe, quando adolescente), viajei para lugares inusitados e sem pensar muito, apenas pela diversão; conheci muita gente mesmo (pessoas que com certeza fizeram muita diferença no meu dia-a-dia), conheci outras culturas... enfim, ficaria aqui fazendo uma lista eterna de coisas. A questão é: estou extremamente feliz com tudo o que vivi por aqui! Se faria de novo tudo? Faria um milhão de vezes se sentisse necessidade.

E qual é a questão do renovar? A questão é que terei que pagar outro curso de inglês, seguro-saúde e GNIB. Se tivesse trabalhando, com tudo certinho, creio que não pensaria duas vezes sobre isso. Tanto que duas semanas atrás, quando pensei que iria começar a fazer mais horas na loja, estava certa de que iria renovar. Mas renovar sem ter nada certo, não creio que seja uma estratégia muito inteligente. Principalmente porque não quero ficar mais um ano e queria apenas 6 meses para juntar dinheiro e esperar o próximo verão.

A minha possibilidade de ficar aqui é talvez arranjando trabalho como au pair live in. No entanto, não sei se é o que quero. Teria que mentir para a família dizendo que ficarei pelo menos mais um ano ou terei que ficar mesmo e ficaria unicamente para viajar. Meus planos de vir para cá nunca foram para viajar para o máximo de lugares que eu pudesse. Mas quando comecei a viajar, tomei gosto pela coisa. Creio que não tanto quanto algumas pessoas que conheço que são realmente viciadas na coisa... rs. Mas gostei e, se decidir por voltar, quero fazer ainda uma última viagem pelos lugares que eu realmente quero conhecer: Itália com certeza entrará nessa. Não me importo que seja inverno.

A Irlanda definitivamente conquistou meu coração. Não tenho palavras para descrever tudo o que vivi por aqui. Tenho certeza de que serei uma eterna apaixonada por ela. Que vou chorar toda vez que ouvir uma música ou assistir um filme que se passa aqui. No entanto, nunca planejei ficar eternamente e estou tentando firmar alguns planos para quando voltar ao Brasil.

Não vou mentir que a saudades da família não pesa nessa lista porque pesa e muito. Mas estou tentando manter a cabeça fria e decidir com calma. Seja qual for a decisão, esse foi (sem sombra de dúvida) o melhor ano da minha vida e eu não sou nem de perto aquela pessoa que entrou no avião no dia 27 de dezembro de 2012.