Um amigo (Gabriel Mueller) com quem viajei para Oslo escreveu isso, há alguns meses no Facebook, e creio que demonstra exatamente como é a volta de um intercâmbio. Você fica "registrado, marcado, rotulado, carimbado e avaliado" (rs) depois que volta de lá. Você ganha uma segunda nacionalidade e um sofrimento eterno.
Além das dezenas de amigos que faz e que continuam morando lá (a maioria europeus, claro!), seu coração vive dividido. Você olha suas fotos sempre, toda vez que alguém posta uma, seu coração dispara; perde o fôlego quando ouve ou lê alguma notícia sobre. E quando toca alguma música irlandesa então... tem que segurar aquela vontade enorme de chorar.
Não, ninguém entende este sentimento. Apenas aqueles malucos que embarcaram na mesma aventura que você. É uma tristeza, misturada com nostalgia que te faz ter vontade de largar emprego, família, amigos... jogar tudo pro ar e ir novamente. Pra sorrir e viver tudo aquilo outra vez.
Quando a gente pensa em voltar para o Brasil, não tem a menor ideia do que isso representa. Pensa que vai voltar e todos vão querer saber tudo, nos mínimos detalhes. Que será tratado como um rei (ou rainha) por todos que sentiram sua falta. Que as milhares de fotos (de todos os ângulos possíveis e imagináveis) dos lugares que você visitou serão disputados à tapa. Na realidade, meu amigo, ninguém está nem aí. Quer dizer, se importam, mas não tanto quanto acreditávamos que seria. O que as pessoas querem é um resumo de tudo o que aconteceu e que você nunca mais fale sobre isso.
Essas nossas fotos e detalhes de viagem serão mesmo vistos, adorados e apreciados, de verdade, por aqueles que viveram o mesmo. Aqueles que entendem e que querem referências de lugares e coisas legais para uma possível próxima viagem.
Tentei segurar ao máximo minha língua e só falar sobre o assunto quando alguém perguntasse. Não queria ser aquelas pessoas chatas que só falam sobre a mesma coisa, sem parar, e que ninguém mais quer ouvir. Confesso que, muitas vezes, não me aguentei e acabei sendo aquela chata. Você quer dividir, você quer explicar, você quer dar a eles um pouco do gostinho de tudo o que você viveu... mas não dá. Isso é só seu e sempre será. É quase como um fantasma que vai te atormentar eternamente, mas que você será completamente apaixonado por ele.
E quando você volta, tudo é a mesma coisa e, ao mesmo tempo, tudo mudou. Porque você mudou, sua visão do Brasil mudou... e não é possível explicar como para outras pessoas. Nem você mesmo entende. Ao mesmo tempo em que quero sair do Brasil e voltar a morar fora, sinto um ódio tremendo quando ouço algum brasileiro revoltado falando que tudo no nosso país é uma merda e que quer morar no exterior. Tenho vontade de mandar calar a boca. Porque, afinal, meu coraçãozinho também é verde e amarelo e nosso país tem muita coisa boa, sim. Ele é que não sabe de nada porque nunca saiu daqui.
Ele não entende, eles não entendem... e nem eu entendo. A questão é: "eu saí da Irlanda, mas a Irlanda não sai de mim". Simples assim.