domingo, 24 de fevereiro de 2013

No Xilindró de Kilmainham Gaol

Pai, preciso confessar uma coisa muito importante para você: estive na prisão da Irlanda. Calma! Muita calma nesta hora. Eu explico: fiz um dos passeios mais legais e interessantes daqui! Visitei a prisão famosa por ter abrigado (e executado) um monte de líderes das revoluções irlandesas.

O lugar é bem escuro, um pouco claustrofóbico e tem um quê de tristeza muito grande. Provavelmente por conta de todo o seu passado de sofrimento e mortes. Você consegue sentir um pouco de tudo isso quando está lá dentro, percorrendo as celas na penumbra e tendo que se abaixar para passar pelos batentes das portas.

É bem complicado entender o que o guia irlandês nos contava. Eu só consegui porque tinha lido previamente sobre a história da Irlanda, sobre as revoltas, a fome e também sobre a prisão. E, ainda assim, acho que compreendi uns 50% do que o cara (que apelidamos de Santa Claus ou Papai Noel) nos dizia. Os espanhóis que estavam comigo e o francês tiveram muita dificuldade também.

Pensei em escrever um texto sobre a história deste lugar, mas percebi que já existe um muito bom, num dos blogs que mais gosto daqui. Não poderia ter feito uma pesquisa melhor do que a dela. Então, se tiver interesse, aqui vai o endereço do Vida na Irlanda.

Consegui tirar algumas fotos e fazer dois vídeos em que você consegue sentir um pouco de como é o clima lá dentro.



Está é uma miniatura da prisão que fica logo na entrada 


As celas onde ficaram os líderes revolucionários antes de serem executados 

Homens, mulheres e até crianças estiveram nessas celas e corredores

A parte mais famosa da prisão 

 Lembrou de "Em Nome do Pai"?


A cruz marca o lugar onde foi executado Padraig Pearce, um dos rebeldes conhecidos como "Os Incríveis"

SERVIÇO
Kilmainham Gaol
Inchicore Road, Dublin 8
Tel: 01 453 5984
Bus: 51B, 78A, 79 (Aston Quay)
Luas: Heuston Station (mais uma caminhada de uns 15 minutos)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A Lentidão das Coisas em Dublin

Ainda não consegui tirar o meu GNIB (Visa) aqui e explicarei as razões detalhadamente. Na Irlanda, as coisas não são como no Brasil, mais especificamente São Paulo. Tudo aqui tem um ritmo diferente. Então, os passos e o tempo foram mais ou menos esses:

1 - Tirar o meu PPS (CPF) e esperar eles enviarem para a sua casa. (uma semana);
2 - Com o PPS em mãos, você vai abrir uma conta no banco e tem que voltar na semana seguinte para te darem o número da conta (mais uma semana);
3 - Com o número da sua conta, você tem que esperar chegar na sua casa o cartão do banco com a senha (mais uns 3 a 5 dias);
4 - Tive um problema ao abrir o papel com a senha e ela acabou ficando ilegível. Tive que pedir outra (mais uma semana);
5 - Depois, você precisa depositar o dinheiro que for sacando do seu VTM (no meu caso levou 3 dias, mas alguns demoram mais que outros);
6 - Pedir o statement, que é como uma declaração do banco que você tem em conta no mínimo os 3 mil euros exigidos (mais 3 dias úteis).

Juntando tudo isso, tirar o meu visa na Garda já me levou mais de um mês (e isso porque ainda nem terminei). Então, está explicado porque continuo apenas com o visto de turista aqui.


Falando na lentidão das coisas, o elevador do nosso prédio está quebrado há 4 dias. Eu escrevi QUATRO dias. A nossa sorte é que os edifícios daqui costumam ser baixos, algo entre 3 e 5 andares, no máximo. No que vivo tem cinco e estamos no terceiro... mas ter que subir e descer escadas todos os dias com o elevador lá, parado... faz eu me sentir como se estivesse no seriado de tv The Big Bang Theory.

Para quem não sabe, eles tem esse mesmo problema e usam as escadas como cenários para o desenrolar das histórias. Pelo menos, pensar nisso torna a dura tarefa de subir escadas mais engraçada. Só quero ver por quanto tempo isso vai durar.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Os Perigos da Língua

Desde que cheguei em Dublin, uso um método muito eficaz para descobrir como chegar aos lugares: pedido de informação. Desde o meu primeiro dia aqui, essa tem sido a mais divertida maneira de conhecer lugares e pessoas.

O mais incrível é que todas as vezes que pedia informação sobre algum lugar que gostaria de ir, as pessoas sempre me acompanhavam por todo o caminho ou por, pelo menos, boa parte dele. Incrível, não?! Como os irishs são educados! Ou, como disse uma outra professora da escola (irish também), desocupados e entediados. Estava invejando esse tipo de comportamento deles e aproveitando para conversar e conhecer alguns.


Pois bem. Esta semana, meu professor resolveu nos ensinar algumas maneiras de pedir informações nas ruas. "Rá, isso eu já tiro de letra". Pensei. E lá foi o Darran (o professor) escrever alguns exemplos na lousa:

"Could you show me the way to Temple Bar?" (Será que você poderia me indicar o caminho para o Temple Bar?)

Como boa aluna que sou, levantei a minha mãozinha crente que arrasaria. Afinal, a minha frase preferida para usar aqui em Dublin ao pedir informação era uma pequena variação dessa e sempre conseguia da melhor maneira possível o caminho: usando o tal do would.

"Teacher, can I use 'would' in this sentence?" (Professor, eu poderia usar o would nesta frase?)

Meu professor respondeu que sim, mas que isso mudaria o sentido da minha frase.

"Ãh????"

Pois é, pessoal, se eu usar a frase "Would you show me the way to Temple Bar?", estarei pedindo para o indivíduo em questão me mostrar o caminho até lá pessoalmente, me acompanhar durante o trajeto.

Então, as pessoas não estavam me acompanhando porque são hiper, mega educadas e não tem mais o que fazer a não ser ajudar uma turista perdida. Eles estavam me acompanhando porque eu estava pedindo que eles fizessem isso. Meu Deus, será que atrasei alguém? rs.

De qualquer modo, eles são sim muito educados. Poderiam se negar a fazer isso e apenas me falar como chega lá. Mas, nessa hora, conta a educação mesmo.


domingo, 10 de fevereiro de 2013

Irlanda do Norte - Belfast

Comecei a viajar apenas agora (ontem), pouco mais de quarenta dias depois de chegar. A escolha foi Belfast, que fica na Irlanda do Norte. Para quem não sabe, existem duas irlandas: a do norte com maioria protestante (ainda ligada à Inglaterra) e a do sul com maioria católica e que detesta os ingleses...rs.

Me preparei reassistindo Em Nome do Pai e vendo pela primeira vez Bloody Sunday. Engraçado que, com a proximidade do povo daqui, você consegue entender e se envolver melhor com a história deles. Queria ir para Belfast para justamente verificar o quanto tudo isso influencia a vida das pessoas lá.

A minha questão foi respondida logo que chegamos e nos deparamos com o centro da cidade todo cercado. Policiais para todos os lados e carros de polícia piores do que o caveirão do Rio de Janeiro. Assusta um pouco tudo isso, sim! Quando chegamos so City Hall, pudemos acompanhar de perto o protesto mais silencioso que vi na vida: dezenas de pessoas enroladas na bandeira do Reino Unido, em completo silencio, paradas em frente à belíssima construção.

Pai, essa foto é original do protesto. Sua filha que tirou.

Como boa curiosa que sou, fui perguntar para dois irlandeses que lá estavam sobre o que acontecia. Chamei as duas brasileiras que estavam comigo para me ajudarem a entendê-los. A revolta dessa parte da população era não terem sido consultatos sobre a retirada da bandeira do mastro. Eles acreditam que deveriam ter questionado o povo sobre isso.

Então, todos os sábados, as pessoas se juntam e saem em protesto do City Hall pelas ruas: TODOS OS SÁBADOS, desde que retiraram a bandeira. Ficamos impressionadas! No Brasil, a gente nem sabe se é erguida alguma bandeira na prefeitura ou não. Se deixarem de erguer, ninguém vai se dar conta disso ou, se notarem, ninguém fará nada a respeito. Quanto mais perder horas do seu fim de semana protestando.

Os mesmos homens falaram que não precisaríamos nos preocupar porque era uma manifestação pacífica. No entanto, não conseguia deixar de pensar que o Domingo Sangrento também deveria ter sido pacífico.

Esse carro possue uma câmera giratória na parte de cima e um microfone: como o carro da google.

Intimidador, não?

A cidade é pequena e não tem muitas atrações. Na questão turística, tudo lá gira em torno do Titanic. Para quem não sabe, ele zarpou de Belfast para o iceberg e para a História. Dentro do Jardim Botânico, existe um museu em homenagem ao mais famoso navio do mundo. Pela baguatela de dezesseis libras. Sim, libras. Lembra que disse que eles ainda viviam sob o domínio britânico? Achamos um absurdo e não fomos nesta parte. No entanto, resolvemos conhecer o Jardim Botânico e o resto do museu.

A nossa dificuldade foi conseguir passar pelo protesto porque a polícia fechou algumas ruas e a "tropa-de-choque" deles estava a postos. Depois da confusão e do tiroteio que teve em uma dessas marchas, no fim do ano passado, não posso culpá-los por se prepararem para o pior. Que, graças a Deus, não aconteceu!

Nesta, os policiais fecharam a rua lá na frente, para que o protesto não entrasse aqui.

No museu, vimos ossadas de alguns dinossauros (que minhas amigas me garantiram ser de mentira porque estava conservado até demais e elas viram uns de verdade na Inglaterra), alguns objetos aleatórios e que não conseguimos entender muito bem o sentido deles e o tal do Jardim Botânico. Este último, era formado por um gramado e duas estufas que estavam fechadas.

E aí, vocês acham que é de verdade ou apenas réplica?

A foto desse bicho estranho aqui é para o meu irmão ver. 

Esse cachorro gigante era muito famoso por aqui. Vou pesquisar sobre o assunto e depois escrevo.

Fomos só nós ou vocês também acham que parece Curitiba?

A única coisa interessante do museu foi conseguir ver fotos e ler sobre toda a questão política envolvida na Irlanda do Norte. Detalhe que passamos em frente e registramos o hotel mais bombardeado do mundo.


Olhando a fachada nem parece que ele sofreu tanto, né?

PS: Postei várias fotos no facebook e algumas outras aqui. Acho que montarei um fotoblog para postar tudo lá e não encher aqui de imagens.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Atendimento Médico

Já tinha ouvido e lido muita gente comentando o assunto, mas esperei uma ocasião para conferir de perto isso. Sim, realmente o atendimento dos hospitais e clínicas daqui de Dublin (e já me falaram que de toda Irlanda) perde muito para o nosso no Brasil. Nunca mais reclamarei de ter que esperar muito tempo para ser atendida por aí.

A Daniela, italiana (sempre ela... rs), não estava se sentindo bem há alguns dias. Falei para ela procurar um médico, mas como tem que pagar pela consulta, ela ficou protelando. Após algum tempo, chegou no limite e ela começou a menstruar novamente e perder muito sangue. Resolveu que precisaria ir ao hospital. Após muita discussão comigo (ela queria ir sozinha), fiz com que o namorado irlandês fosse junto. Assim, ele poderia entender melhor o médico.

Cabe abrir uma explicação aqui. Os irlandeses pagam um imposto específico para a saúde. No entanto, se você precisar ir a um hospital ou clínica, terá que desbancar no mínimo 50 euros, que costuma ser o preço apenas da consulta. Ainda assim, o serviço é de uma qualidade um tanto quanto duvidosa.

Pai, esta foto é meramente ilustrativa, ok? Não conheço estas pessoas.

Voltando à nossa história. Quando chegaram ao que seria o melhor hospital de Dublin, ficaram contentes de só ter sete pessoas na fila de espera. Depois de cinco horas e ainda tendo mais cinco pessoas antes deles, desistiram. Sim, vocês não leram errado. O HOSPITAL levou CINCO HORAS para atender DUAS pessoas. Um completo absurdo!

Hoje, falei com ela para irmos a um centro médico que tem em frente ao nosso prédio. Depois de pagar os cinquenta euros e esperar por não mais de 10 minutos, fomos chamados pela médica. Ela era irlandesa e foi até bastante simpática. Tirou a pressão e perguntou o que ela sentia. Examinou-a e pediu que ela trouxesse um pouco de urina. Fez o teste lá na hora, com o palitinho e chegou a conclusão de que se tratava de uma obstrução intestinal. Resultado: saímos de lá com uma receita de... BUSCOPAN (Oi?).

Não posso deixar de pensar que, se fosse no Brasil, ela teria no mínimo feito um exame completo de sangue, urina e ultrassom. Lembra quando disse que existem muitas coisas que são melhores no Brasil? Então, colocaria esta em primeiríssimo lugar.

Nós nunca paramos para pensar no quanto nossos médicos são fantásticos. Claro, existem exceções, mas a maioria sabe todas as bulas e remédios de cor. É impressionante! Tudo bem, também pagamos duas vezes (impostos + plano de saúde) sim. Mas a maioria dos médicos não te mandaria para casa com uma receita de buscopan na mão sem ter feito mais exames.

Um caso que ficou muito famoso por aqui, mais precisamente em Galway, foi o de uma indiana que teve uma complicação na gravidez. Estava com 17 semanas e o corpo começou a não aguentar e ela apareceu no hospital com fortes dores nas costas, abdomen, febre, vômito, perdendo muito líquido aminiótico e com o cólo do útero completamente dilatado (aborto espontâneo). Diante do quadro, o casal pediu ao médico que interrompesse a gravidez (ou o que ainda restaria do bebê) para salvar a vida da mulher. A resposta do médico foi "Este é um país católico. Não podemos fazer nada enquanto houver batimento cardíaco". A mulher agonizou durante três dias e morreu juntamente com o feto.

Foto do protesto em Nova Deli contra o atendimento médico (ou falta dele) prestado à indiana

Segundo fiquei sabendo, a Irlanda é o país da União Européia que tem a lei mais severa e restrita na questão do aborto.

Depois de tudo isso, fiquei muito feliz por ter feito um check up médico completo no Brasil. Agora, a Daniela aqui, está pensando seriamente em ir para a Itália por alguns dias para se tratar, o que atualmente está parecendo ser uma excelente ideia.



terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

As Portas de Dublin

Existem histórias, aqui em Dublin, que tentam explicar as portas coloridas nas casas e prédios da cidade. Segundo as más-línguas, elas servem para que o irlandês consiga distinguir a porta de sua casa quando volta para casa à noite e bêbado. Já as péssimas-línguas dizem que era para os cavalos reconhecerem as casas e pararem em frente à correta, já que o dono estaria num estado tão lamentável de bebedeira que não poderia fazê-lo.

Outra das histórias conta que em 1861, quando o príncipe Albert faleceu, a rainha Vitória mandou todos colocarem faixas pretas nas portas das casas em sinal de luto. Um irlandês revoltado (e provavelmente também bêbado) resolveu pintar as portas durante a noite em sinal de protesto. Quando todos acordaram, gostaram tanto da ideia que resolveram aderir à moda.

Seja como for e qual explicação tiver, a questão é que elas são realmente muito adorávei! Em estilo georgiano, realmente acabam dando outra cara para a cidades. Duvida? Dá uma olhada nesta foto que tirei enquanto caminhava na rua hoje. E olha que essa aí tinha umas casas bem modestas. 

Lindas, não?!

Antes de mudar para cá, queria morar em uma casa que tivesse uma delas. Queria casa porque poderia comprar uma bicicleta e a porta colorida porque é legal... rs.

PS: Na minha escola, a cor dela é vermelha.

Mudando um pouquinho de assunto. Acho que não citei aqui no blog mas, para quem não sabe, estou ajudando num brechó de caridade todas às quartas-feiras durante a tarde. Por isso que não tenho mais entrado tanto na internet para escrever aqui ou responder e-mails ok, pai?

Também comecei a fazer academia. Aqui, por 200 euros, você faz um plano de um ano e pode frequentar a academia e algumas aulas quantas vezes quiser (leia-se aguentar). Acaba saindo por uma bagatela de 16,6 euros por mês. Eu ainda consegui alguém para me matricular comigo numa promoção e gastei 175 euros (14,6 euros). Agora, só preciso ter força de vontade para usufruir disso.

Lembram-se que citei das coisas boas que tem no Brasil que a gente não percebe? Então, citarei mais uma. Aqui, não tem um instrutor para fazer uma avaliação física sua e montar uma série de exercícios própria para o que você quer. Se você quiser, tem que pagar 25 euros por um personal trainner. Se não, se vira nos 30, amigo.